A Universidade Estadual Paulista (Unesp) participou do Projeto Rondon 2019, iniciativa do Ministério da Defesa, do Governo Federal, com duas equipes dos campi de Araraquara e de Presidente Prudente que dedicaram, neste ano, 16 dias na orientação e treinamento de moradores de uma cidade no Acre e outra no Piauí.
Os integrantes realizaram atividades relacionadas a saúde, empreendedorismo, cooperativismo, meio ambiente, alimentação, agricultura, leitura, informática e lazer. O grupo da Faculdade de Ciências e Letras (FCL), da Faculdade Ciências Farmacêuticas e do Instituto de Química, de Araraquara, esteve em Capixaba, município do sudeste do Acre, com 11.733 habitantes, a 85 quilômetros da capital, Rio Branco.
“A interação entre os acadêmicos da Unesp e a comunidade de Capixaba foi de extrema importância porque proporcionou uma intensa troca de saberes entre todos. A troca de saberes envolve cultura, valores, acolher e ser acolhido e vivenciar a rotina do município. O mais importante foi o sentimento de pertencimento dos moradores ao contexto maior, que é o nacional”, explica o coordenador da equipe que participa do Projeto Rondon pela 19ª vez, professor Roberto Carlos Miguel.
Durante o período de trabalho em território acreano, a equipe da Unesp realizou palestras sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), associativismo, cooperativismo e empreendedorismo; oficinas sobre coleta seletiva, compostagem e bioativação do solo, revegetação de encostas em Áreas de Preservação Permanente (APPs), manejo e conservação de solo e água, caldas sulfocálcica e bordalesa, sistemas agroflorestais, fossa séptica e turismo no desenvolvimento regional e local.
Conteúdo
As atividades no município englobaram dois minicursos, um sobre o programa de computador Excel e o outro sobre Plano Diretor para pequenos municípios – Saneamento Básico e Gestão da Água, além de um seminário sobre educação digital.
“Estar neste projeto dá ao estudante a oportunidade incrível de participar de viver uma das experiências mais intensas da minha vida, pois pude vivenciar, por um tempo considerável, a rotina, a cultura e os hábitos de uma população distante que fala a mesma língua, mas possui diferenças no ‘modus operandi’ de levar a vida”, avalia o estudante do curso de Ciências Econômicas Marcelo Soares Cossalter.
“É realmente fantástico porque nos proporciona reflexões profundas sobre nossa conduta em sociedade e o que podemos fazer para começar a mudar o ambiente a nossa volta. Enquanto pessoa, a população nos ensinou muito sobre a vida, apenas com sua simplicidade. Posso dizer que era exatamente o que eu precisava para unir o campo teórico, que tenho me dedicado a aprender, ao prático”, acrescenta o aluno.
“O Projeto Rondon é considerado historicamente como o maior projeto de extensão universitária do País, em que centenas de universidades disputam, em nível nacional, as limitadas vagas oferecidas pelos editais. É muito importante a Unesp participar para continuar presente entre as seletas instituições brasileiras que são tratadas com muito prestígio pelo projeto”, enfatiza estudante do curso de Engenharia Química Vítor Luís Batistela.
Plantio
Os docentes e alunos da Unesp também encontraram tempo para realizar o plantio de 300 mudas de diversas espécies do bioma amazônico, doadas pela Universidade Federal do Acre (UFAC), por meio do Viveiro de Mudas da Instituição, que foram fixadas em duas escolas rurais de Capixaba e distribuídas durante as cinco visitas técnicas a propriedades de pequenos agricultores familiares.
As ações serviram para ouvir experiências e dificuldades dos produtores sobre plantio e escoamento da produção, para orientação sobre políticas públicas existentes, além de discutir os possíveis encaminhamentos para as demandas de cada um. A atividade beneficiou cerca de 60 pessoas, entre filhos, esposas, maridos, genros, noras, avós e avôs dos proprietários. Ações que envolveram 1.096 participantes.
Legado
Outra equipe da Unesp, da Faculdade Ciências e Tecnologia, do campus em Presidente Prudente, seguiu para Francinópolis, com 5.348 habitantes, cidade distante 202 quilômetros ao sul da capital piauiense, Teresina.
“Nossa atuação foi com o objetivo principal de deixar um legado no município, não de uma forma assistencialista, mas, sim, no sentido de formar multiplicadores que pudessem perpetuar os conhecimentos transmitidos por nós para um maior número de pessoas”, destaca a coordenadora da equipe da Unesp, professora Claudemira Azevedo Ito.
“Esses multiplicadores são funcionários técnico-administrativos da prefeitura, assim como lideranças comunitárias, produtores rurais que compreenderam a metodologia e, certamente, vão multiplicar os saberes adquiridos”, completa a docente.
“Estar em Francinópolis me fez dar mais valor à vida, a reclamar menos e valorizar mais as pequenas coisas. Pessoas como o senhor Adão e a senhora Nissa nos deram lições reais de vida em relatos de uma jornada cheia de trabalho duro. O que, para nós, parecia algo sofrido, para eles era alegria. Isso tudo me fez repensar. Nós paulistas estamos esquecendo de puxar o freio da vida e contemplar pequenas coisas, como os momentos com a família, além de agradecer por simplesmente viver, comer e trabalhar, não importando as circunstâncias”, ressalta a aluno do curso de Geografia Emanuela Sanches Moreira.
No Piauí, foram realizadas oficinas sobre Água Potável, Significado de Saúde, Banheiro Seco, Pedagogia das Cores, Movimento “Eles por Elas”, Saúde e Lazer e Doenças Sexualmente Transmissíveis para os Jovens.
Também ocorreram capacitações de Confecção de Brinquedos com Garrafa Pet, Cuidados Pessoais e Planejamento Familiar, CriAtiva, de Soberania Alimentar, de Permacultura e Espiral de Ervas e de Construção de Horta em Espiral, além de Clube do Livro, Cine Debate e Roda de Conversa Histórias da Nossa Terra, totalizando 1.415 participantes.
Aplicação
A professora Claudemira Azevedo Ito salienta a aplicação prática dos conhecimentos levados pela Unesp como um dos pontos altos da presença da universidade no projeto, com a construção de horta em espiral de ervas em duas escolas, técnica que permite melhor aproveitamento do solo e da água para regar as plantas porque as espécies mais tolerantes à baixa umidade ficam no topo da horta e as que precisam de mais irrigação na base.
Outra iniciativa foi a edificação, em um espaço público, do banheiro seco, uma alternativa ecológica no tratamento das fezes porque são separadas da urina. “Não é simplesmente uma teoria ou ouviu falar que existe a possibilidade de fazer um banheiro seco. Qualquer pessoa pode experimentar o banheiro e visitar a horta e ver como é fácil construir um dos dois”, conclui Claudemira Azevedo Ito.