12:31 – 29/09/2019
FOTO: Roberto Carlos/Secom
Com atuação na capital e no interior, projeto da Fundação Alfredo da Matta terá ação piloto em Autazes, a partir da segunda-feira (30/09)
Embora seja hoje curável, a hanseníase ainda representa um desafio para a saúde pública no Amazonas, onde apresenta nível endêmico considerado “Alto”, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Para mudar essa realidade, a Fundação Alfredo da Matta (Fuam) realiza o Projeto Ação pela Eliminação da Hanseníase (Apeli), que vai reforçar as ações da instituição na prevenção e controle da endemia no estado. A iniciativa, com início previsto para 2020, terá uma ação piloto em Autazes (a 107 quilômetros de Manaus) a partir desta segunda-feira (30/09).
A Ação Piloto do Projeto Apeli vai levar ações de educação, exames, tratamento e organização estratégica a Autazes e a nove comunidades indígenas do município. O primeiro dia da agenda, na segunda (30/09), marcará o lançamento da Ação Piloto do projeto, com a assinatura do Termo de Cooperação entre a Fuam e a Prefeitura de Autazes, às 10h, com a presença de representantes da Secretaria de Estado de Saúde (Susam) e autoridades.
A estimativa da ação, que segue até 13 de outubro, é de atendimento, na busca ativa de casos, a 12 mil pessoas, dentre elas 6,6 mil indígenas. Segundo o diretor-presidente da Fuam, Ronaldo Amazonas, a Ação Piloto servirá para delinear a forma de atuação do Projeto Apeli, a ser realizado ao longo de quatro anos, a partir de 2020.
“Autazes foi escolhido por ser, do ponto de vista logístico, um município próximo de Manaus, por ter características populacionais muito importantes para o Projeto, por ter populações indígenas muito definidas, escolas com estudantes menores de 15 anos e, sobretudo, porque houve interesse político e ajuda da municipalidade para nos auxiliar no projeto”, diz.
A agenda da Ação Piloto inclui ainda investigação e vigilância de contatos, campanhas educativas, capacitação e sensibilização de profissionais de saúde, cirurgias em pacientes, organização de equipes locais de saúde nos municípios visitados, dentre outras. As atividades serão realizadas em unidades de saúde, escolas, e comunidades indígenas e rurais, por uma equipe de 25 profissionais – enfermeiros, médicos, farmacêuticos-bioquímicos, assistentes sociais, psicólogos, técnicos, administrativos.
Indígenas em foco – Antecipando a programação geral do Projeto Apeli, a Ação Piloto em Autazes terá ações específicas voltadas para as populações indígenas no município. Em todo o estado, essas populações abrangem aproximadamente 120 mil índios, de 66 etnias. Apenas em 2017 e 2018, dentre 865 indígenas atendidos pela Fuam, foram identificados 45 casos de hanseníase.
As ações específicas incluem a busca ativa em comunidades indígenas, a capacitação de equipes dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) e a distribuição de material informativo sobre hanseníase nas línguas das etnias habitantes em Autazes. Adicionalmente, serão realizados diagnósticos em Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), com atenção especial ao HIV/Aids, sífilis e hepatites.
Iniciativa – Lançado pela Fuam oficialmente em agosto deste ano, no aniversário de 64 anos da entidade, o Projeto Apeli visa reduzir os números da hanseníase no Amazonas. Nas últimas três décadas, seguindo tendência nacional, a doença teve queda no estado, de 75,5 casos para cada 100 mil habitantes, em 1990, para 10,3 casos, em 2018. Apesar da redução de 86,3%, o número ainda traduz endemicidade “Alta”, segundo padrões da OMS, colocando o estado na 19ª posição em detecção de casos no Brasil.
Diante desse quadro, a Fuam, responsável pelo Programa de Controle da Hanseníase, vem planejando o Projeto Apeli desde o início deste ano, com a proposta de intensificar e estabelecer novas metas para as ações de detecção de novos casos, treinamento de profissionais de saúde e monitoramento de ações de saúde realizadas pelos municípios, além de promover maior informação a respeito da doença.
As ações previstas incluem detecção precoce e tratamento imediato de novos casos, com investigação de pessoas que convivem com eles; reforço do sistema de vigilância epidemiológica, com protocolos diagnósticos e registros sobre casos novos, em tratamento e de alta em sistemas de informação; campanhas educativas; sensibilização e treinamento de profissionais; intercâmbio de conhecimentos por meio de teleconsultoria, via Telessaúde; e organização de equipes locais para manutenção das atividades de controle nos municípios.
Perspectivas e parcerias – Os resultados do Projeto Apeli no combate à hanseníase poderão levar a iniciativa para além do estado. Segundo Ronaldo Amazonas, o Ministério da Saúde já requisitou à Fuam levar o projeto também para Acre, Amapá e Roraima.
“O Ministério já abraçou o Projeto Apeli como prioritário, e seu desenho pode e vai ser levado inicialmente a esses três estados. É a contribuição que a Fuam dá, como Centro de Referência nacional, para que o enfrentamento à hanseníase comece pelo nosso estado e, uma vez bem realizado, possa servir de modelo para os demais estados”, declara o diretor-presidente.
O Projeto envolverá parcerias entre a Fuam e órgãos e entidades que atuam no Amazonas, entre elas a Fundação Estadual do Índio (FEI), os DSEIs, a Secretaria de Estado de Educação (Seduc-AM) e o Sistema OCB/AM, filiado à Organização das Cooperativas Brasileiras.
Para garantir a realização da iniciativa, que visa alcançar todos os 62 municípios do Amazonas ao longo de quatro anos, estão sendo pleiteados ainda recursos financeiros junto ao Ministério da Saúde, a parlamentares (por meio de emendas) e a parceiros institucionais.
Sobre a doença – Conhecida antigamente como lepra, a hanseníase é uma doença crônica e infectocontagiosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae. Atinge principalmente pele e nervos de extremidades do corpo, como braços, pernas e pescoço, podendo acometer pessoas de ambos os sexos e de qualquer idade. Entretanto, é necessário um longo período de exposição à bactéria, sendo que apenas uma pequena parcela da população infectada de fato adoece.
Sobre a Fuam – A Fundação de Dermatologia Tropical e Venereologia Alfredo da Matta (Fuam), vinculada à Susam, é um Centro de Referência estadual, nacional e internacional nas áreas de Hanseníase, Dermatologia Tropical e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Realiza ações de prevenção e atendimento ambulatorial a pacientes de Hanseníase e à população em geral em dermatologia clínica, DST/Aids e cirurgias dermatológicas, com atendimento a pacientes com câncer de pele, além de atuar nas áreas de ensino e pesquisa.
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