O setor agropecuário brasileiro acredita que o acordo de livre comércio firmado entre Mercosul e União Europeia poderá beneficiar setores fora da pauta tradicional de exportação e também inserir pequenos e médios produtores no mercado internacional.
“Além dos setores mais tradicionais, como carne bovina, o acordo vai trazer ganhos para diversos setores do agronegócio que estão fora da pauta habitual de exportação, como cafés especiais, mel e pescado”, avalia a coordenadora de relações internacionais, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Camila Sande.
A abertura comercial entre os dois blocos econômicos prevê eliminação de tarifas ou a ampliação de acesso de produtos agrícolas por meio de quotas. Entre os segmentos que terão tarifas zeradas estão café torrado e solúvel, fumo manufaturado e não manufaturado, peixes, crustáceos e óleos vegetais.
Camila afirma que, em termos gerais, o acordo foi bem recebido pelo setor e pode abrir espaço para exportação de pequenos e médios produtores. “Houve mais ganhos do que perdas e os segmentos que se consideram mais afetados terão que buscar medidas para aumentar sua competitividade e presença em mercados. O acordo vai trazer um incremento de qualidade.”
Um setor que demonstra preocupação com a abertura comercial é o leiteiro. Os produtores brasileiros temem perder competitividade com a retirada de tarifas de queijos e leite em pó originários da Europa. “Temos que fazer uma arrumação interna e achar políticas públicas para que eles fiquem competitivos”, declarou a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, após o anúncio do acordo.
Uma medida em estudo pelo governo é a isenção de tarifas para importação de máquinas pelos produtores de leite. Tereza também anunciou a criação de um fundo para modernização do setor de vinho, outro mercado que pode ficar vulnerável ao acordo.
Em sua oferta, o Mercosul também prevê desgravação total a produtos agrícolas como o azeite de oliva e regime de cotas para chocolates e intermediários de cacau originários do bloco europeu.
Halal
O segmento de produtos halal — alimentos preparados segundo os preceitos do Islã — tem expectativa de impulsionar as exportações e chegar a novos mercados com a concretização do acordo. “Na Europa vivem por volta de 25 milhões de muçulmanos, não é um mercado pequeno”, aponta o diretor-executivo da certificadora Cdial Halal, Ali Saifi.
Ele explica que, de maneira indireta, o mercado europeu permitirá que os produtos brasileiros cheguem a países onde atualmente as exportações são inviáveis. “Os europeus vão poder vender nossos produtos em mercado que são fechados para o Brasil, por questão logística ou de ausência de acordos comerciais.”
Saifi considera que a cota para carne de aves, 180 mil toneladas, sendo 50% com osso e 50% sem, é relativamente pequena. “O Brasil precisa buscar um crescimento maior que esse. Mas é melhor uma cota menor do que nenhuma. O acordo é um começo, ainda falta tempo para entrar em vigor. Esperamos uma melhora daqui para frente.”
Ele acredita que todos os produtos halal, incluindo carnes e cereais, devem ser beneficiados, mas evitou dimensionar o impacto financeiro da abertura comercial. “O acordo ainda está em fase embrionária, é muito cedo pra calcular. Mas de fato deve trazer maior investimento e aumento da escala de produção.”